Portugal: Os "Socialistas" tiveram a maioria, mas os Capitalistas ganharam as eleições!

Portugal foi a eleições no passado dia 30 de janeiro. O resultado foi uma surpresa, apesar da rivalidade entre António Costa (Partido Socialista) e Rui Rio (Partido Social-Democrata) propagada pelos media, o Partido Socialista ganhou com maioria absoluta, conseguindo 120 assentos parlamentares.

Para além disso, a esquerda perdeu vários assentos, com o Bloco de Esquerda reduzido a 5 e o Partido Comunista Português reduzido a 6. Houve também uma subida do Chega, que elegeu 12 deputados e da Iniciativa Liberal, com 8.

O que é o socialismo?

Visto que os “socialistas” estarão no poder, indisputavelmente , durante 5 anos, é importante questionar o que é o socialismo.

Será uma ideologia? Ou talvez um prato gourmet?

O socialismo é o movimento de emancipação dos trabalhadores e, para isso, é necessário a abolição do estado, classes e dinheiro.

Será isto possível?

O capitalismo cria as condições necessárias à existência de uma sociedade onde as necessidades de cada um são preenchidas e cria a classe que contém o potencial para realizar esta tarefa histórica: o proletariado, cujos interesses são opostos aos da burguesia e que não tem nada a perder, apenas os seus grilhões.

Considerar que Portugal é socialista apenas porque os “socialistas” estão no poder, em vez de analisar as condições existentes em Portugal, demonstra uma falta de espírito crítico. A sociedade portuguesa, tal como o mundo à sua volta, é caracterizada pela existência de uma classe que controla os meios de produção, que são utilizados para a produção de lucro, e de outra classe que não tem qualquer propriedade a não ser a sua própria força de trabalho - a classe trabalhadora.

Nada disto representa socialismo ou o poder proletário, então porque haveríamos de considerar Portugal socialista?

Estas eleições foram consideradas um terramoto político, e uma das razões para as considerarem como tal é a existência de 12 deputados da extrema direita (Chega) no parlamento.

Será o Chega uma ameaça à democracia? E de que tipo de democracia estamos a falar?

Antes de tudo, o facto de o Chega ser a 3a força política não é tão importante quanto as pessoas pensam. O PS ganhou com maioria absoluta, a oposição no geral não poderá fazer nada a não ser barulho, portanto o Chega em particular não tem poder político nenhum.

Para além disso, Democracia por si só é um conceito vazio. Democracia, mas para quem?

Podemos considerar a antiga cidade grega de Atenas como uma cidade democrática? É certo que a democracia existia, mas nem todos usufruíram desta, havendo apenas uma minoria com direitos políticos.

Podemos considerar a atual democracia burguesa de democrática? Apesar de podermos escolher quem nos representa, a verdade é que não temos poder de decisão nas questões políticas. Não só os representantes eleitos por nós têm completa autonomia durante 4 anos, mas a nossa decisão eleitoral está limitada a um grupo restrito de partidos, não havendo espaço para as propostas e decisões da população. Esta democracia apenas é democrática para as diferentes fações da burguesia que financiam os partidos políticos, enquanto o resto da população está limitada à escolha de partidos pré-concebidos. Após as eleições todo o poder permanece nas mãos da burguesia, independentemente da fação que ganhou (esquerda ou direita). O Estado é sempre um aparelho repressivo da classe dominante, e portanto, o estado burguês, seja democrático ou autoritário, vai sempre representar os interesses da burguesia. A democracia burguesa é nada mais nada menos que uma ditadura do capital. Não admira que depois de todo o entusiasmo eleitoral após o 25 de abril a abstenção tenha subido, passando de 8,5 em 1975 para 48,6 em 2022.

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Contudo, pode-se argumentar que podemos usar as eleições como uma forma de eleger a fação “menos má” da burguesia, já que não parece que uma revolução que derrube o sistema capitalista vá acontecer no futuro próximo. Portanto, não seria melhor exercer o nosso direito de voto e votar contra o Chega de maneira a que o fantasma do fascismo não volte a assombrar a bela república democrática portuguesa?

Fascismo e o Chega

Votar não é a forma de parar o fascismo. O fascismo não é algo sobrenatural que vem dos confins do inferno para nos assombrar. Não é uma ideologia criada por homens maus que vem perturbar a paz social vivida nas democracias liberais.

O fascismo é um exacerbar ao máximo do racismo, nacionalismo, xenofobia e sexismo presentes no capitalismo. É a ideologia mais repressiva existente e é o veículo da contra-revolução, da reação burguesa, mais eficiente, através das suas medidas violentas e políticas interclassistas, como os sindicatos verticais.

Quando tudo falha e a aparência da soberania popular não é suficiente para controlar os trabalhadores a burguesia vê-se obrigada a usar o seu recurso mais poderoso. Não é coincidência que o período de emergência dos estados fascistas nos anos 30 tenha acontecido a seguir ao período mais revolucionário (onda revolucionária dos anos 20) já experienciado pelo capitalismo em que, pelo mundo todo, os trabalhadores se revoltaram contra a ordem existente. Atendendo ao caso de Portugal, podemos ver que o golpe de estado de 1926 que deu início à ditadura em Portugal aconteceu depois de um período de grande agitação política e social.

A 1a República, principalmente depois da Grande Guerra, foi marcada pela crise económica - a enorme dívida pública herdada da Monarquia, a inflação, desvalorização da moeda, despesas militares com a guerra - e pela instabilidade política – 45 governos entre 1910 e 1926.

O desemprego e a inflação dificultavam a vida dos operários, que cada vez mais se organizavam em confederações de sindicatos como a CGT e realizavam greves e manifestações.

Apesar da grande agitação social, que ia desde manifestações a atentados terroristas, e da realização de várias greves, a luta operária era muito desorganizada. Não tinha como objetivo a conquista de poder político mas apenas uma luta económica através das greves que eventualmente iria causar o derrube da burguesia.

Para além disso faltava um partido político enraizado na classe trabalhadora e que a guiasse.

A corrente anarco-sindicalista, que orientava a CGT, era própria dum proletariado jovem e inexperiente na luta de classes. Esta corrente acreditava no derrubamento da burguesia por meio da greve geral e de ações terroristas desorganizadas, e punha portanto a sua esperança no movimento sindical e grevista. (…) Apesar da vitalidade da CGT, que chegou a agrupar mais de 100 mil trabalhadores cerca de 1922, o movimento era enfraquecido pela falta duma plataforma política clara, os dirigentes sindicais cediam à demagogia e punham os interesses económicos de cada setor profissional à frente dos interesses gerais da classe; desgastavam-se energias sem um plano de batalha preciso e os trabalhadores iam-se cansando.

Francisco Martins Rodrigues, marxists.org

A instabilidade política deste período demonstra a desorganização da burguesia e a sua falta de soluções para resolver a crise económica e social, que a guerra só veio agudizar.

Este poder político fragilizado levou a que muitos no campo da burguesia pensassem tal como este embaixador britânico:

Nos princípios de 1925, o embaixador britânico em Lisboa escrevia para Londres dizendo que o sistema parlamentar português já estava morto e que um tal sistema era «perfeitamente inadequado, sob muitos aspectos, às nações latinas»

analisesocial.ics.ul.pt

A República não estava a satisfazer os interesses da burguesia, que estava descontente com a instabilidade política, a agitação social crescente e a crise económica. A solução encontrada foi a de um golpe que instaurou uma ditadura militar (Golpe de 28 de maio de 1926) que mais tarde evoluiu para uma ditadura fascista – o Estado Novo.

É óbvio que devemos combater as atrocidades do fascismo, mas apenas combatendo o capitalismo como um todo. O fascismo é um produto do capitalismo e é utilizado pela burguesia quando necessário. Tal como vimos neste exemplo histórico da ascensão do fascismo em Portugal, a burguesia teve que deixar cair a sua máscara democrática e mostrar o quão repugnante pode ser para se manter no poder.

O anti-fascismo não é suficiente para combater o fascismo. O anti-fascismo, através das frentes populares, une os trabalhadores aos seus exploradores, substituindo a luta de classes por uma luta ideológica entre fascismo e democracia, quando na realidade o fascismo provém desta mesma luta entre classes.

O movimento “antifa” subjuga os trabalhadores aos burgueses em nome do “mal maior”.

Temos de ser contra o capitalismo, independentemente da face que ele revelar, a democrática ou a autoritária. Num mundo em que a pandemia aumentou a insegurança alimentar enquanto os bilionários ficaram 54% mais ricos, em que a guerra destrói países inteiros como o Iêmen onde 20,7 milhões de pessoas - 71 por cento da população – necessitam de ajuda humanitária, neste mundo onde os direitos humanos apenas existem no papel porque o que determina todas as decisões são os interesses do capital, o antagonismo não é entre Fascismo ou Democracia, mas Socialismo ou Barbarismo!

Não é, portanto, ao pedir proteção ao Estado ou ao formar blocos com movimentos políticos que operam na órbita da democracia e se mobilizam em "defesa da república" que o proletariado será capaz de se defender contra o exercício sem vergonha e sem entraves da violência da classe dominante, mas apenas através da luta de classes, ou seja, através do fortalecimento do partido revolucionário e do restabelecimento de organizações de classe, ambas desaparecidas até agora.

leftcom.org

Mas então, como atuar em relação ao Chega?

O Chega tem um papel fundamental na atual conjuntura política. Indiretamente, faz com que as pessoas vão votar para “defender a democracia” contra a ameaça do Chega. Diretamente, contribui para o aumento do racismo e xenofobia, através do seu populismo nacionalista que põe as culpas da crise e da falta de emprego nos imigrantes e nas minorias étnicas como a cigana. É de esperar, infelizmente, que esta visão nacionalista venha a aumentar entre os trabalhadores enquanto não houver uma resposta da classe trabalhadora que entenda que os males da sociedade capitalista provém da incessante busca pelo lucro e não da existência de imigrantes, na realidade a classe trabalhadora em si é uma classe de imigrantes.

À medida que o Chega ganha mais apoiantes há quem pense que devia ser ilegalizado. Todavia, a ilegalização do Chega com base no seu caráter extremista abriria um precedente para reprimir todo e qualquer movimento que possa ser visto como extremista. Qualquer manifestação ou ação dos trabalhadores poderia ser vista como “extremista” e, portanto, proibida.

Portanto, a única forma de combater o Chega é combater o capitalismo como um todo.

Derrota da Esquerda

É indubitável que a esquerda capitalista sofreu uma grande derrota. O Bloco de Esquerda perdeu 14 deputados e o PCP passou de 12 para 6.

A esquerda saiu derrotada, contudo isto não afeta em nenhum aspeto os verdadeiros comunistas ou a luta de classes.

A cisão entre os verdadeiros revolucionários e a esquerda reformista (social-democracia) aconteceu no despoletar da 1a guerra mundial, quando a maior parte dos partidos que compunham a 2a Internacional apoiaram os seus devidos estados na guerra imperialista (à exceção dos Bolcheviques e mais alguns partidos) e quando, mais tarde, os comunistas finalmente saíram dos partidos sociais-democratas e criaram as suas próprias organizações (discutivelmente demasiado tarde).

A esquerda parlamentar, a esquerda do capital, apenas se diferencia da direita em relação à forma como organiza o capitalismo. No fim, quando confrontados com uma ameaça dos trabalhadores, todo o espetro político se une em defesa do status quo. Diferenças ideológicas nunca se sobrepõem a diferenças de classe. Visto que o parlamento é apenas o centro de discussão das várias fações burguesas, qualquer organização que se envolva e queira representação no parlamento tornar-se-á parte do sistema.

O melhor exemplo disto é o exemplo do Partido Social-Democrata (SPD) alemão. Ao participar no parlamento cada vez mais esqueceu a luta revolucionária, chegando ao ponto de alguns dos seus membros acharem que uma revolução já não era necessária e que o socialismo poderia ser obtido através de reformas(por exemplo Bernstein). Para estes membros bastava lutar pelos interesses dos trabalhadores no parlamento, esquecendo completamente a noção marxista, apreendida com a experiência da Comuna de Paris, de que

a classe operária não pode apossar-se simplesmente da maquinaria de Estado já pronta e fazê-la funcionar para os seus próprios objectivos.

Marx, Guerra Civil na França

A propriedade do SPD foi crescendo, e uma enorme burocracia começou-se a desenvolver assente nos seus membros, com vários funcionários pagos 15 vezes o salário de um trabalhador médio. Portanto, entende-se como é que o SPD apoiou os interesses do capital alemão, com os seus membros parlamentares aprovando unanimemente os créditos de guerra. Tornando-se parte do sistema começou a apoiar este mesmo sistema que dizia criticar, porque a continuidade do SPD dependia da continuidade do modo de produção capitalista.

E foi assim que o maior partido “socialista” no mundo e o maior partido do Império Alemão se tornou essencial na derrota da Revolução Alemã, quando, durante a Revolução, contratou Freikorps (força paramilitar protofascista) para reprimir revoltas dos trabalhadores e matar os revolucionários Rosa Luxemburg e Karl Liebknecht.

Este exemplo mostra claramente o caráter repressivo da esquerda parlamentar. Apesar de todo o latim gasto a falar de mudança apenas contribuem para direcionar qualquer tentativa de mudança num sentido reformista.

Novamente, os comunistas devem ser contra o capitalismo, seja qualquer a face que este nos mostre – a face direita ou a esquerda. A derrota do Bloco e do PCP, da esquerda parlamentar, não afeta em nada a luta dos trabalhadores por uma sociedade melhor.

Será o Partido Socialista o problema?

Economia

Em resposta à crise económica em Portugal muitos argumentam que esta é um resultado das medidas socialistas do PS. Eu discordo e passo a explicar porquê.

O objetivo da produção na sociedade capitalista é a produção de lucro. Deste modo, as crises resultam de uma lucratividade insuficiente.

O crescimento do capitalismo implicou uma maior mecanização e produtividade, visto que a concorrência entre os capitalistas implica que eles queiram aumentar a sua produtividade para poderem produzir mais do que o seu concorrente. Todavia, com esta tendência para investir mais capital em máquinas há uma tendência para a taxa de lucro cair, porque é investido menos capital no trabalho assalariado, a única parte do investimento que produz o lucro, visto que este último resulta de trabalho não-pago.

Todo o sistema capitalista está em crise devido à queda da taxa de lucro visível desde os anos 70 depois do maior período de acumulação da história do capitalismo, resultante da destruição maciça da 2a Guerra.

Para atenuar os efeitos da crise os gastos efetuados pelos governos aumentaram e a dívida mundial disparou. Atualmente a dívida global é 256 por cento do PIB. A dívida pública em Portugal é cerca de 130 por cento do PIB nacional.

A utilização de fundos governamentais para tentar estimular a economia também contribuiu para o aumento da inflação. Portugal não só se mantém entre os países da UE com o salário mínimo mais baixo, mas o aumento previsto dos salários também não está a acompanhar a taxa de inflação, representando uma descida do salário real (poder de compra). publico.pt

Para além disso, os empregos que estão a ser criados atualmente continuam a tendência de precarização da classe trabalhadora. Em Portugal, “ Até meio deste ano (2021) , oito em cada dez novos trabalhadores contratados são precários. ” - rr.sapo.pt

Que futuro espera os jovens de hoje em dia? Se conseguirem arranjar um emprego o mais provável é que seja um emprego precário. Depois de 12 anos a estudar (mais ainda se forem para a faculdade) a única coisa que lhes espera é trabalharem para um patrão até morrerem e desperdiçarem a sua vida na produção de lucro para alguém que não quer saber deles. Isto parece mau, mas será ainda pior visto que provavelmente será um emprego precário que vão odiar. Isto é, se não morrerem antes numa guerra ou por causa das mudanças ambientais. Mas estou-me a adiantar, para já falemos da crise.

Em tempos de crise, e como forma de contrariar a descida do rácio do lucro algumas medidas tomadas pelos capitalistas são a descida dos salários e mudança dos centros de produção para locais com salários mais baixos, como se viu com a mudança das fábricas para locais como a China nos anos 80.

Com a vitória do PS vai ficar tudo igual porque a conjuntura económica não vai alterar nos próximos anos, isso apenas seria possível com uma guerra que desvalorize o capital ao ponto de ser possível recomeçar o ciclo de acumulação. Mesmo que outro partido tivesse sido eleito não faria diferença, não conseguiriam resolver os problemas associados à crise como a dívida, a inflação, os salários baixos em empregos precários e o desemprego.

Exemplificando: Na Grande Depressão, o Presidente norte-americano, Franklin Roosevelt, tomou uma série de medidas para lidar com os efeitos da depressão e recuperar a economia americana – o New Deal. A panóplia de medidas adotadas pela administração Roosevelt, tais como subsídios bancários, controlo do preço industrial, entre outras, apesar de terem ajudado a contrariar a tendência descendente que começou no fim dos anos 20, não foi suficiente. Mal o governo cortou o seu estímulo, o investimento e produção voltaram a cair e o desemprego disparou. Apenas quando começou a guerra e a preparação de recursos para a mesma é que o estímulo fiscal “finalmente produziu algo como emprego total” - Paul Mattick, Business as Usual

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Como se pode ver, quando os gastos governamentais diminuíram em ‘37 o desemprego disparou e só começou a descer novamente, chegando a atingir níveis próximos de zero, com a guerra e a preparação para esta. Foi a preparação para a guerra e a própria guerra que eliminaram a Depressão. Como é possível que seja necessário morrer entre 70 a 100 milhões de seres humanos para retomar a acumulação do sistema?

Indubitavelmente, é possível animar uma economia estagnada por meio de financiamento de déficit, isto é, por meio do crédito. Mas não é possível manter a taxa de lucro sobre o capital dessa maneira, e assim, perpetuar as condições de prosperidade. Então, foi apenas questão de tempo até que o mecanismo da crise de produção de capital se reafirmasse. Obviamente que a mera disponibilidade de crédito para expandir a produção não é solução para a crise, mas uma política transitória e improvisada que apenas gera efeitos “positivos” temporários. Se não for acompanhada por uma verdadeira expansão do capital, baseada em lucros maiores, deve entrar em auto colapso. O “remédio keynesiano” levou apenas a uma nova situação de crise com o crescimento do desemprego e da inflação – ambos igualmente prejudiciais ao sistema capitalista.

Paul Mattick Sr. criticadesapiedada.com.br

Este é apenas um dos vários exemplos históricos de tentativas de lidar com a crise que não resultaram. Depois da “Golden Age” do capitalismo ter terminado nos anos 70 muitos governos tentaram recuperar as taxas de crescimento do passado. Desde o Reagan, republicano, que tentou diminuir a inflação e gastos governamentais e saiu da Casa Branca com um aumento do défice nacional em 186% até ao outro lado do espetro político onde as políticas do Presidente francês François Mitterand, um “socialista”, resultaram na fuga dos capitais franceses para o estrangeiro, no aumento do desemprego e na necessidade de desvalorizar o franco 3 vezes.

A esquerda e a direita estão em oposição, não apenas entre si, mas com a realidade.

A crise não pode ser resolvida com políticas, apenas mitigada. A economia mista (regulamentação governamental) tem sido a opção dos governos para lidar com a crise.

A atual crise económica irá prevalecer até que haja uma desvalorização do capital em grande escala (numa guerra) ou até que a classe trabalhadora destrua o sistema capitalista.

Ambiente

A crise económica é preocupante, mas a crise ambiental é um assunto deveras importante cuja urgência não pode ser subestimada. Não me irei alongar visto que há diversos artigos no website sobre este tema. Resumidamente, o capitalismo é inconciliável com o ambiente e o bem-estar não só humano mas de toda a natureza. A necessidade constante de crescimento ilimitado do capitalismo choca com o caráter limitado da Natureza.

A diminuição drástica das emissões, necessária nesta década para que o aumento da temperatura se limite ao 1.5 graus, não parece que vá acontecer.

Apesar de nos países da Europa e dos Estados Unidos parecer que uma certa diminuição está a acontecer, os gases com efeito estufa emitidos nos países onde há a maior parte da produção compensam completamente a diminuição nos outros países.

A única forma de resolver a emergência ambiental é uma revolução que altere de forma radical o modo de produção. O capitalismo não é sustentável.

Novamente, a vitória do PS, ou de qualquer outro partido neste caso, não irá ser suficiente para resolver a crise climática: é um problema global e apenas a abolição do capitalismo mundialmente a poderá resolver. Medidas nacionais não funcionarão.

Política Externa

Em relação à política externa seria uma grande falha não mencionar o tópico que não sai da televisão e das mentes de muita gente. Os media em Portugal falam sobre a guerra e a invasão da Ucrânia incessantemente. A guerra é sim algo atroz, mas não é possível pará-la apelando somente ao pacifismo. A atual guerra na Ucrânia é o resultado de um conflito imperialista que se agudizou com a presente crise económica. A invasão russa é uma reação ao avanço que tem sido feito pela NATO nos países do leste da Europa, vizinhos da Rússia. Putin, enquanto representante da classe capitalista russa, tenta defender os interesses imperialistas da sua nação, não só garantindo recursos como o ferro e o carvão, mas algum espaço de manobra que o território ucraniano lhe garante. A guerra também empurrou países como a China e a Índia para perto da Rússia, enquanto que a NATO e a UE estão agora mais próximas dos EUA na luta contra um inimigo comum. Os campos imperialistas começam-se a formar, o que só aumenta a corrida às armas que já estava a ser feita.

O governo português, enquanto lacaio da NATO e de Bruxelas, condena gravemente as atrocidades russas em solo ucraniano e esquece-se que apoiou as atrocidades americanas em solo iraquiano. A guerra na Ucrânia está a ter imensa cobertura porque o agressor neste caso é um rival da NATO, enquanto que outras guerras por todo o mundo, como na Somália, no Iémen ou na Síria raramente são mencionadas.

A única solução é fazer guerra à guerra. Os trabalhadores de todo o mundo devem-se revoltar contra os seus governos e patrões e rejeitar matar os seus irmãos trabalhadores. Não devemos escolher lados nas guerras imperialistas.

Não à guerra a não ser a guerra de classes!

Portanto…

O que fazer?

Em todas as eleições os comunistas devem apoiar a abstenção. Votar em branco significaria dizer que apoiamos o sistema parlamentar mas não nenhum dos seus partidos. Não votar significa que acreditamos que apenas uma revolução dos trabalhadores pode trazer diferença. Os comunistas não esperam ser eleitos nem querem tomar o poder em nome dos trabalhadores. Os trabalhadores têm de conquistar o poder de estado e geri-lo através das suas próprias assembleias instaurando uma ditadura do proletariado, o período de transição entre o capitalismo e o comunismo.

Em 1871 isto foi conseguido na Comuna de Paris, mas ela foi destruída violentamente pelas forças francesas com apoio prussiano. Em 1917 a democracia dos trabalhadores foi posta uma vez mais em prática mas desta vez num país inteiro. Contudo, a revolução Russa ficou isolada e foi degenerando lentamente num capitalismo de estado em que a burocracia bolchevique se tornou a classe capitalista. No entanto, ambos estes momentos históricos demonstraram-nos como é que os trabalhadores se organizaram democraticamente e tomaram controlo da produção e do poder político. A democracia soviética assenta nos sovietes (assembleias de trabalhadores) onde há um delegado para um certo número de trabalhadores. Este delegado atua como um porta-voz e tem de passar a mensagem dos trabalhadores que representa corretamente. Qualquer falha em fazê-lo leva a que o mandato seja revogado imediatamente.

Para além disso, no modelo soviético todas as decisões são tomadas de baixo para cima. Os trabalhadores elegem sovietes locais, que elegem sovietes distritais, e assim por diante. A base de todo o sistema soviético assenta nos trabalhadores. Isto é radicalmente diferente da democracia burguesa, em que votamos num representante ou num partido e durante 4 anos não temos qualquer voz política. Somos cidadãos passivos nesta democracia, enquanto que na democracia soviética cabe a cada trabalhador dar a sua opinião.

A burguesia controla os meios de produção e o poder político em todo o mundo. É por isso que todas as decisões que são tomadas têm consideração se irão trazer lucro aos burgueses ou não. Não vivemos numa democracia, mas sim numa ditadura do capital.

Apesar de o capitalismo apenas trazer destruição e sofrimento isto não quer dizer que estamos condenados a viver assim para sempre. Está nas mãos da classe trabalhadora salvar a espécie humana extinguindo o capitalismo.

O partido comunista, ou uma organização de revolucionários, terá necessariamente de guiar os trabalhadores na altura de uma revolução. Visto que alguns trabalhadores se apercebem da necessidade de acabar com o capitalismo antes de outros faz sentido que se comecem a organizar e a criar conexões com a classe trabalhadora para na eventualidade de um movimento espontâneo estejam preparados e tenham uma influência nos trabalhadores.

A exigência global hoje em dia tem de ser a de uma alternativa social revolucionária ao capitalismo. Esta é a condição essencial para começar a construir essa nova sociedade onde, livre das leis do capital, será possível produzir para as necessidades sociais e redistribuir a riqueza social produzida para satisfazer as necessidades sociais e individuais. Tudo o resto pertence à galáxia fumegante dos idealismos sem poder, politicamente prejudicial para aqueles que os propõem, desmoralizante para os trabalhadores que os apoiam, e fatal para a retomada da luta de classes.

leftcom.org

Se concordas com a mensagem transmitida neste artigo contacta a Tendência Comunista Internacionalista e ajuda a construir um futuro partido comunista internacional.

Sancho Pança

Fontes:

Imagem: flickr.com

legislativas2022.mai.gov.pt

dn.pt

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Marks, Harry J. “The Sources of Reformism in the Social Democratic Party of Germany, 1890-1914.” The Journal of Modern History, vol. 11, no. 3, University of Chicago Press, 1939, pp. 334–56, jstor.org.

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Business as Usual – Paul Mattick Jr.

thebalance.com

shec.ashp.cuny.edu

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theguardian.com

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Saturday, June 11, 2022